6 de fev. de 2011

ESCULTURA

Eu já te amava pelas fotografias.
Pelo teu ar triste e decadente dos vencidos,
Pelo teu olhar vago e incerto
Como o dos que não pararam no riso e na
                                             [ alegria.
Te amava por todos os teus complexos de
                                             [ derrota,
Pelo teu jeito contrastando com a glória dos
                                             [ atletas
E até pela indecisão dos teus gestos sem
                                             [ pressa.
Te falei um dia fora da fotografia
Te amei com a mesma ternura
Que há num carinho rodeado de silêncio
E não sentiste quantas vezes
Minhas mãos usaram meu pensamento,
Afagando teus cabelos num êxtase imenso.
E assim te amo, vendo em tua forma e teu olhar
Toda uma existência trabalhada pela força
                                       [ e pela angústia
Que a verdade da vida sempre pede
E que interminavelmente tens que dar!...

                          De A Mulher Ausente (1940)