12 de jun. de 2011




(...)
''Cegos, surdos, mudos - felizes! -
 são os namorados enquanto namorados. 
Antes, depois são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.


Mas quem foi namorado sabe que outra vez
voltará à sublime invalidez que é signo de perfeição interior.
Namorado é o ser fora do tempo, fora de obrigação e CPF,
ISS, IFP, PASEP,INPS.

Os códigos, desarmados, retrocedem de sua porta, 

as multas envergonham-se de alvejá-lo,
 as guerras, os tratados internacionais encolhem o rabo diante dele, em volta dele.
 O tempo, afiando sem pausa a sua foice,
espera que o namorado desnamore para sempre.
Mas nascem todo dia namorados novos, renovados, inovantes,
e ninguém ganha ou perde essa batalha.

Pois namorar é destino dos humanos,
destino que regula nossa dor, nossa doação, nosso inferno gozoso.
(...)

Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples,
não intencional, nunca previsto,
e dá ao gesto a cor do amanhecer,
para ficar durando, perdurando,
som de cristal na concha
ou no infinito.

Namorar é além do beijo e da sintaxe,
não depende de estado ou condição.
Ser duplicado, ser complexo,
que em si mesmo se mira e se desdobra,
o namorado, a namorada não são aquelas mesmas criaturas
que cruzamos na rua.
São outras, são estrelas remotíssimas, fora de qualquer sistema ou situação.
A limitação terrestre, que os persegue,
tenta cobrar (inveja) o terrível imposto de passagem:
"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer!
Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada na sola dos sapatos..."
Ou senão:
"Desiste! Foge! Esquece!"
E os fracos esquecem. Os tímidos desistem. Fogem os covardes.
Que importa? A cada hora nascem
outros namorados para a novidade da antiga experiência.
E inauguram cada manhã
(namoramor)
o velho, velho mundo renovado.''