3 de ago. de 2010

"Krishnamurti, os Anos de Plenitude", por Mary Lutyens: "O ser humano não pode construir imagens dentro de si mesmo, como uma cerca de segurança - religiosa, política, pessoal. Elas de manifestam como símbolos, idéias, crenças. O peso dessas imagens domina o pensamento humano, seus relacionamentos e sua vida diária. Essas imagens são as causas de nossos problemas porque elas separam as pessoas umas das outras. A sua percepção da vida é moldada pelos conceitos já estabelecidos em sua mente. O conteúdo de sua consciência é a sua consciência total. Esse conteúdo é comum a toda humanidade. A individualidade é o nome, a forma e a cultura superficial que o homem adquire da tradição e do meio ambiente. A singularidade do homem não se encontra no superficial, mas na completa libertação dos conteúdos de sua consciência, comum a toda humanidade. Assim, ele não é um indivíduo.

Liberdade
O indiano dizia que " a liberdade não é uma reação, nem tão pouco uma escolha. É pretensão do ser humano achar que, por ter escolha, ele é livre. A liberdade é pura observação sem direção, sem medo de punição e recompensa. A liberdade é sem nenhum motivo, a liberdade não está no fim da evolução humana, mas se encontra no primeiro passo da sua existência. Pela observação, a pessoa começa a descobrir a falta de liberdade. A liberdade é encontrada no estar atento, sem escolha, à nossa existência e atividades diárias.

Para ele, o pensamento é tempo. " O pensamento nasce da experiência e do conhecimento, que são inseparáveis do tempo e do passado. O tempo é o inimigo psicológico do ser humano. Nossa ação é baseada no conhecimento e, portanto, no tempo. Assim, o ser humano é sempre escravo do passado. O pensamento é sempre limitado e assim nós vivemos em conflito e luta constantes. Não há evolução psicológica.

O compromisso
Em 1980, seis anos antes de morrer, Krishnamurti estava fazendo uma palestra em Brockwood, na Inglaterra, quando foi questionado sobre os motivos que o levaram a continuar falando, após 50 anos, como mensageiro, gastando energia, quando ninguém parecia mudar.

Ele sábia e serenamente respondeu: "Antes de mais nada, eu não dependo de vocês como um grupo que vem ouvir o palestrante. O orador não está ligado a nenhum grupo em particular, nem está precisando de uma assembléia. Penso que quando alguém vê algo verdadeiro e belo, ele quer contar às pessoas sobre isso, por afeição, por compaixão, por amor. E, se não houver quem esteja interessado, tudo bem, mas aqueles que estão interessados, talvez eles possam reunir-se. Você pode perguntar à flor por que ela cresce, por que ela tem perfume? É pela mesma razão que o orador fala" .
Krishnamurti defendia a qualidade das amizades, do afeto. " Existe uma forma de comunhão que não é verbal, que necessita aquela peculiar qualidade de atenção e sossego. Assim como dois amigos muito íntimos que não têm que falar muito, que não têm que entrar em longas e complicadas explicações, que compreendem um ao outro naquele próprio silêncio em que existe a comunhão da amizade. Dois amigos muito íntimos podem ficar muito quietos, cada um com seus próprios problemas e, nessa quietude, nesse silêncio, acontece uma outra atividade que pode resolver o problema".

Sobre o medo ele escreveu: " Enfrente o medo, convide-o, não o deixe chegar de repente, inesperadamente, mas encare-o constantemente, busque-o com diligência e determinação. Não deixe os problemas criarem raiz. Passe por eles rapidamente, atravesse-os como se estivesse cortando manteiga. Não permita que eles deixem uma marca, acabe com eles assim que eles apareçam. Você não pode evitar ter problemas, mas acabe com eles imediatamente".

A renúncia a títulos preestabelecidos
Em Madras, em 1947, aqueles que tinham contato com o homem Krishnamurti e com a essência de seus ensinamentos estavam perplexos com o fato de ele ter sido anunciado pela Sociedade Teosófica como sendo o Messias e o instrutor do mundo e ter renunciado a esse papel.
Krishnamurti tentou responder a essa questão contando uma história: "O diabo e um amigo estavam passeando quando viram, a sua frente, um homem abaixar-se e pegar algo brilhante do chão. O homem olhou para aquilo com deleite, colocou-o no bolso e continuou caminhando. O amigo perguntou: "O que aquele homem achou que o transformou tanto?" O diabo respondeu: "Eu sei, ele encontrou a verdade." "Por Deus!"- exclamou seu amigo: "Isto deve ser um mau negócio para você!". "De jeito nenhum"- o diabo respondeu com um sorriso malicioso: "Vou ajudá-lo a organizá-la, você vai ver só!"
Krishnamurti indaga: "Pode a verdade ser organizada? Você pode encontrar a verdade através de uma organização? Elas estão baseadas em diferentes crenças. Crenças e organizações estão sempre separando as pessoas, excluindo umas das outras. Você é um hindu e eu sou um mulçumano, você é um cristão e eu sou um budista. Crenças, ao longo de toda a história, atuaram como uma barreira entre os seres humanos. Nós falamos de fraternidade, mas se você tem uma crença diferente da minha, estou pronto para cortar sua cabeça; nós temos visto isso acontecer inúmeras vezes.
E prossegue; "A experiência de Deus deve ser experimentar por si mesmo. Ela não pode ser organizada. No momento que é organizada, propagada, ela cessa de ser verdade, ela se torna uma mentira. O real, o imensurável, não pode ser formulado, não pode ser colocado em palavras. O desconhecido não pode ser medido pelo conhecido, pela palavra. Quando você o mede, ele cessa de ser verdade, deixa de ser real e, portanto, é uma mentira".

Citações sobre Krishnamurti
"Quando Krishnamurti entrou na sala eu disse para mim mesmo: 'Com certeza o Senhor do Amor chegou'. Khalil Gibran (escritor, autor de "O Profeta")

"Eu mal posso pensar em algo que não seja a sabedoria e beleza de meu amigo. Eu andei com ele pelos bosques que ficavam aos arredores de onde ele morava. Ele respondeu minhas dúvidas e se espantava com a beleza das árvores. Ele me deu bastante coisa para pensar e me colocou em uma busca por algo que eu mal entendia."
Joseph Campbell (professor, escritor, autor de "The Power of Mith")

"Meu primeiro encontro com Krishnamurti foi nos anos 80. Ele estava dando uma palestra, era uma manhã fria de inverno, estava nevando e umas mil pessoas estavam esperando do lado de fora. Krishnamurti falou por duas horas. Ele foi direto, profundo e cruelmente honesto. Quando eu fui para fora, a neve tinha parado e o sol brilhava. Por alguma razão eu sentia que o sol estava brilhando e tinha esquentado porque eu estava me sentindo com brilho e calor por dentro. Eu nunca conheci Krishnamurti pessoalmente, embora fosse íntimo de muitas pessoas que estavam próximas a ele e vi o efeito notável que esse homem teve em suas vidas. Na minha própria vida Krishnamurti me influenciou profundamente e me ajudou, em termos pessoais, a ultrapassar os limites das restrições que eu mesmo me impunha à minha liberdade.
Deepack Chopra (escritor)

"Eu nunca conheci Krishnamurti, apesar de não existir, fora ele, qualquer outro homem vivo que eu consideraria um grande privilégio conhecer. Sua linguagem é desnudada, reveladora e inspiradora. Ele fura as nuvens de filosofia que confundem o nosso pensamento e restaura as fontes de ação. Ele não iniciou qualquer dogma ou crença nova, ele questionava tudo, cultivava a dúvida e a perseverança, libertava a si mesmo da ilusão e do encantamento do orgulho, da vaidade, e de qualquer forma sutil de domínio sobre os outros. Ele ia à própria fonte da vida para sustento e inspiração. Eu não conheci nenhum outro homem vivo cujo pensamento fosse mais inspirador."
Henry Miller (escritor)

"Há um nome que se sobressai em contraste a tudo isso que é secreto, suspeito, confuso, livresco e escravizante: Krishnamurti. Aqui se encontra um homem de nosso tempo que podemos chamar de mestre da realidade."
George Bernard Shaw (dramaturgo)

"Krishnamurti é um líder religioso da maior distinção, que é escutado com grande proveito e aprovação por membros de todas igrejas e seitas."
Dalai Lama

"Krishnamurti é um dos grandes pensadores da nossa época."
Aldous Huxley (escritor, novelista, filósofo)

* Ilustração: Claudio Salvio.